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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Literatura de Cordel


Introdução

Materialmente, o “folheto” ou a “literatura de cordel”, o “cancioneiro nordestino”, “poesia popular”, ou ainda “literatura popular em verso”, “livrinho de feira”, livrinho de histórias matutas” conformou-se numa estrutura impressa em oito, dezesseis ou trinta e duas páginas de cerca de onze centímetros de largura por quinze de comprimento, narrativa disposta comumente em estrofes de seis versos seguindo a rima ABCBDB, encadernado com capas ilustradas com vinhetas, desenhos, fotografias ou xilogravuras. Conforme a temática abordada ou a trama desenvolvida recebeu classificações específicas: romance, história de valentia, desafio ou peleja, folheto de acontecido ou poema de época, folhetos religiosos, dentre outras. Popularizou-se chamar esta mídia de folheto de cordel por conta da forma que em alguns lugares ela era comercializada, qual seja, pendurada em cordões em barracas de feira, mesmo que outras formas de comercialização tenham sido muito utilizadas. Inserido num ambiente marcadamente oral, fora objeto de uso em sessão de leitura coletiva, não deixando, no entanto, de ser utilizado para o prazer da leitura individual. Pode ser considerado um “suporte de memória”, nas palavras de Ruth Terra[1] de uma poesia que normalmente é decorada, seja para regozijo pessoal ou para a performance de leitura perante um público.

O folheto de cordel tão associado à cultura nordestina tem como inspiração os folhetos populares disseminados pela Europa a partir dos séculos XV e XVI e que foram trazidos ao Brasil pelos portugueses. Muitos poetas nordestinos em contato com esses folhetos ibéricos adaptaram as narrativas em prosa para a estrutura poética a que nos referimos. No final do séc. XIX, a literatura de folhetos, caracterizada por sua identidade com histórias oriundas da tradição de oralidade, foi fortemente impulsionada pelo surgimento das tipografias no interior do Nordeste. A interiorização de uma maquinaria considerada obsoleta pela imprensa dos grandes centros proporcionou que histórias perpetuadas na memória e transmitidas através da oralidade ganhassem a dimensão da letra impressa e se difundissem em muitos espaços do sertão nordestino. O precursor desse processo de ampla disseminação dos folhetos foi Leandro Gomes de Barros, autor de uma vasta gama de histórias e responsável pela materialização das mesmas através de sua tipografia.

A partir do surgimento dessas tipografias, segundo Luli Hata,[2] o cordel estruturou-se em um sistema comercial e de produção poética envolvendo profissionais que lidam com o lado material (responsável pela subsistência), mas que se sustenta em um determinado saber e em uma estética. Além dos autores, editores, impressores, distribuidores e vendedores (os folheteiros) completam o grupo de profissionais ligados ao ramo da poesia. Muitas vezes estas atividades não eram excludentes sendo que um autor poderia ser responsável por todo o percurso comercial. Este período áureo para produção, transmissão e recepção dos folhetos populares alcança meados do séc. XX quando, segundo alguns estudiosos, a produção desta mídia demonstra sinais de crise ligada ao desenvolvimento técnico de veículos de comunicação a exemplo do rádio que irá inaugurar novas mediações nas relações oral/escrito/iconográfico.




[1] TERRA, Ruth. Memórias de Lutas: a literatura de folhetos no nordeste (1893-1930). São Paulo: Global Editora, 1983.
[2] HATA, Luli. O Cordel das Feiras às galerias. Dissertação de mestrado apresentada ao departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, como requisito parcial para a obtenção de grau de Mestre em Teoria Literária, sob orientação da Profª Drª Márcia Abreu, 1999.p. 18, 19.

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