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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Uma Utopia chamada Canudos

Por Marcos Monteiro


No nosso imaginário brasileiro e nordestino ergue-se provocante a cidade de Canudos, como uma verdadeira “utopia religiosa”, categoria sugerida pelo pastor Djalma Torres.

Canudos era uma pequena aldeia construída no século XVIII, à margem do Rio Vaza-Barris, no interior da Bahia. Transformou-se rapidamente em uma grande cidade de cerca de 25 mil habitantes, a partir da liderança de Antônio Conselheiro, uma figura mística singular, no nosso Nordeste, que em 1893 chegou ao local e batizou a cidade de “Belo Monte”.

A idéia era essa mesma: construir uma cidade acolhedora, para onde se dirigiam as massas pobres do sertão, em busca de lugar para morar, terra para plantar, e relações sociais saudáveis para se conviver. Essa última parte era garantida pela liderança de Conselheiro que constrói a Igreja, símbolo da presença de Deus no meio do povo.

Antônio Conselheiro foi estudado e classificado por muitos, de várias maneiras. Fanático, comunista, oportunista, beato, revolucionário, são alguns dos adjetivos que recebeu de estudiosos e oponentes. Talvez a classificação de Hoornaert como um místico, no bom estilo medieval, um “negociador do sagrado” o defina bem.

Tento peregrinando por tantos anos pelos sertões da Bahia e de outros estados do Nordeste, sempre construindo igrejas e aconselhando as pessoas, Antônio Vicente Mendes Maciel, recebeu a merecida alcunha de “conselheiro”. Na cidade de Canudos realizava prédicas e mediava situações diversas, apenas com a sua presença simbólica.

Na cidade do Conselheiro havia brancos, índios, negras, pessoas de passado duvidoso ou mesmo violento e eram acolhidos e viviam de modo digno. Somente não eram acolhidos maçons, hereges e protestantes. Esses últimos eram muito poucos em toda a região nordestina, mas o fato levanta questões.

Haveria simpatizantes do protestantismo na Canudos tão católica? Por que a não inclusão de protestantes nessa cidade que acudia a todos os marginalizados de então. São perguntas à espera de respostas, ou de novas perguntas.

De todo o modo, Canudos foi uma cidade construída em torno de uma idéia. Enquanto utopia nunca poderia encontrar um lugar ou um espaço de realização. Enfrentou sistemas e exércitos, mas foi destruída. Sobrevive como herança mítica e como descrição tanto da capacidade e habilidade de pessoas simples enfrentarem a força das instituições, como da possibilidade e impossibilidade de se construir cidadania à margem dos trâmites legais, oficiais ou simplesmente costumeiros.

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